terça-feira, 30 de junho de 2009

Resumo: “Aprendizagem Cooperativa - Teoria” – Luísa Freitas e Cândido Freitas

Em meados da década de 60, vários investigadores iniciaram um trabalho sistemático onde desenvolveram actividades com pequenos grupos, originando um corpo de conhecimentos que constitui o fundamento da aprendizagem cooperativa.
A aprendizagem cooperativa é uma das estratégias mais eficazes para procurar que todos tenham êxito na escola. É também uma das respostas mais consequentes no sentido de proporcionar à criança as aprendizagens mais convenientes. Apesar de ter levantado algumas dúvidas, chegou-se ao consenso de serem contemplados grupos heterogéneos na aprendizagem cooperativa, no entanto surgiram algumas preocupações sobretudo por parte dos pais de crianças sobredotadas, com medo que estas acabassem por ser exploradas, o que não se verifica, já que a aprendizagem cooperativa dispõe de técnicas apropriadas para não prejudicar quem aprende com mais facilidade. A aprendizagem cooperativa também veio abrir uma oportunidade de sucesso com alunos provenientes de etnias diferentes. Outra questão polémica na aprendizagem cooperativa é a existência ou não de recompensas, e a existirem qual o seu tipo. É necessário ter em conta a motivação extrínseca (factores alheios ao próprio trabalho, por exemplo prémios) e a motivação intrínseca (estímulo proveniente do trabalho em si). Desde cedo se tinha a ideia das vantagens que poderiam existir se se introduzissem recompensas, incluindo as de ordem material, mas em qualquer caso, a motivação intrínseca tem sempre maiores retornos educacionais.
A aprendizagem cooperativa desenvolveu-se mais como uma prática do que como resultado de uma teoria, sendo que alguns resultados dessa prática são a melhoria das aprendizagens na escola, melhoria das relações interpessoais, melhoria da auto-estima, entre outros.
Nos últimos anos começou a ser usado um termo aparentemente análogo à aprendizagem cooperativa, que é a aprendizagem colaborativa. À primeira vista estes termos podem ser considerados sinónimos, no entanto colaborar tem mais amplitude do que cooperar. Segundo Bruffe, os processos usados na aprendizagem colaborativa dão ao estudante maior liberdade, com menor intervenção do professor e consequentemente maior responsabilização do aluno. Para que a cultura de colaboração se consolide é importante a existência de momentos para se aprender cooperativamente.
As componentes básicas para estruturar a aprendizagem cooperativa são:
1. Interdependência positiva – Todos os elementos do grupo devem ter tarefas destinadas e serem responsáveis por alas, percebendo que se falharem não são eles que falham mas o grupo. Existe a interdependência de finalidades (todos os membros trabalham para um fim comum), de recompensas (conceder à equipa que tiver melhores resultados certos privilégios), de tarefas (quando se pretende realizar uma tarefa com a participação de todos, por exemplo quando uns elementos fazem um tio de pesquisa e outros fazem outra), de recursos (por exemplo quando um aluno tem a tesoura, outro o papel, outro a cola) e de papeis (quando cada elemento tem um papel que está dependente dos outros). Johnson e Johnson consideram que pode ainda haver mais quatro tipos de interdependência positiva: de identidade, de ambiente, de fantasia e de outros grupos concorrentes.
2. Interacção face a face – Quando os indivíduos encorajam e facilitam os esforços de cada um para realizar as tarefas de modo a alcançarem os objectivos do grupo. Devem-se seguir 3 etapas, a 1ª é desenvolver o espírito de grupo, na 2ª deve-se promover a interdependência positiva de todas as formas adequadas e por último deve-se procurar assegurar a interacção, monitorizando o grupo e assinalando os seus bons resultados.
3. Avaliação individual/responsabilização pessoal pela aprendizagem – cada elemento do grupo tem de sentir-se responsável pelas aprendizagens definidas para esse grupo e por isso tem de existir uma avaliação individual que deve ter em conta alguns procedimentos: formar grupos pequenos; haver testes individuais; colocar questões orais ou solicitar demonstração de certas competências a elementos do grupo ao acaso; observar sistematicamente o trabalho dos grupos; existir no grupo o papel de verificador da aprendizagem, o qual deve fazer perguntas para que cada membro demonstre o que aprendeu; os estudantes ensinarem uns aos outros o que aprenderam.
4. Uso apropriado de skills interpessoais e de pequeno grupo – Os alunos têm necessidade de aprender a partilhar a informação, a assegurar-se que compreenderam o que estudaram, saber usar o tempo, ser capaz de partilhar sentimentos, de ouvir sem interromper esperando pela sua vez de intervir, assim, todas estas qualidades devem ser desenvolvidas na prática de grupos. Johnson, Johnson, Holubec e Roy identificam 4 níveis de skills: de formação (organização do grupo e regras mínimas), de funcionamento (gestão do grupo), de formulação (de ideias e de análise de recursos que levam a níveis mais elevados de raciocínio e de retenção do que se está a aprender) e de fermentação (ideias que permitam a reconceptualização dos materiais estudados). Estes autores mencionam 5 passos a seguir no ensino dos skills de cooperação, que são motivar os alunos para a aprendizagem desses skills, assegurar que os alunos compreenderam o que de facto constitui o skill, providenciar situações de prática a todos os elementos, assegurar que os alunos avaliam o uso dos skills e assegurar que os alunos continuam a praticar o skill. Kagan também sugere um programa de desenvolvimento de competências sociais para o trabalho cooperativo, que envolve 2 categorias: skills de tarefa (gestão da agenda, dar e receber ideias) e skills sociais e de manutenção (encorajar e apreciar e orientação para a avaliação do processo). O mesmo autor identifica 8 abordagens de desenvolvimento de skills: reestruturação da tarefa, jogo permanente, treino de comunicação, treino de resolução de conflitos, jogos para desenvolver skills, desenvolvimento do papel do grupo, dramatização de papeis e monitorização e avaliação do processo pelo próprio, colegas do grupo, professor e outros grupos.
5. Avaliação do processo do trabalho de grupo – os alunos devem habituar-se a analisar os resultados avaliando-os em permanência, através da avaliação do seu trabalho e dos objectivos que forem sendo atingidos. Segundo Johnson e Johnson os professores devem estruturar uma aprendizagem que permita uma real avaliação, tendo em consideração 5 passos: avaliação das interacções no grupo, feedback constante, tempo para reflexão, avaliação do processo em grupo turma e demonstração de satisfação pelos progressos.
A formação de grupos é um ponto central para realizar a aprendizagem cooperativa nas aulas. Para isso é necessário ter em conta a criação do “espírito de grupo” (o sentimento de pertença que cada um dos elementos do grupo deve possuir), o tipo de grupos a formar, a dimensão do grupo e a sua duração no tempo.
Resumo feito por Ana Ferreira